Grades passando rápido. Carros passando como luzes do meio fio. O tempo. O metrô. A metrópole. Tudo se enterliga querendo ou não e a menina mal entende qual é o dia e qual é a noite. Ninguém diz nada. Será que é surda ou ninguém diz nada?

Como luzes no meio fio, passa toda sua vivência em frente dos olhos, passam os sentimentos pelos pais, pelo namorado, passa a vontade de estar em qualquer lugar, passa a força de lutar, aqui nasce o mal do século. Será que o mal está na tentativa de viver com tamanha falta de ânimo?

Desce do metrô, caminha ou corre para as escadas e se encontra pálida de expressão em frente a fila do ônibus. Passa o bilhete único pela caixinha de créditos, aqui o teu ir e vir custa 4,30?

Pega o transporte. Podia ir andando mas o horário já não é mais tranquilo para ela como é para eles. Tranquilo de que? Diga a palavra não dita! Diga!

Estupro!

“Fecha as pernas, ou tenta fechar menina!”

“Ele não teria dito nada, ou não teria rasgado sua roupa se ela já não estivesse sussurrando a ele para rasgar.”

Será que já saiu de casa com a roupa rasgada?

A infelicidade de uma vida baseada nos atos de outro alguém. Imaginou que ele fosse filho de uma mulher. Filho de outra perna que não se fecha sairá esse ser que abomina o sexo e abomina mais ainda o consenso. Lacre é lacre e o seu ele arrancou na dentada! Será que virgindade virá prêmio?

Olhos cegos. Mas na verdade a deficiência dela era auditiva. Surda de nascença o que não quer dizer que foi parida sem música. A consciência fala, fala de outras formas, canta! Pede! Grita! Desespera! Você a ouve?

Como luzes no meio fio, passa a vivência em frente dos olhos, passam os sentimentos pelos pais, pelo namorado, passa a vontade de estar em qualquer lugar, passa a força de lutar, aqui nasce o mal.

O metrô para.

“Linha atrasada pois está com objeto nos trilhos.” Linda… Que desperdício.

Será que serviu de alimento aos trilhos?