Um estudo de caso sob as fake news. 

Com o crescimento da era digital e as redes sociais vinculando conteúdos sem apuração, casos envolvendo a definição de verdade e política como as Fake News, junto ao uso de dados pessoais para fins monetários vieram à tona. Um exemplo desse cenário é o filme The Hater nos mostram em seus enredos. 

Tradicionalmente a autoridade do jornalismo se dá, principalmente, pela sua competência em reconstruir discursivamente os eventos que notícia, com base no testemunho presencial do jornalista ou no testemunho de terceiros (suas fontes), que detém conhecimento especializado para falar do assunto abordado. 

Com a emergência desse fenômeno das Fake News disseminadas por redes sociais minando a atividade jornalística e muitas vezes influenciando as pessoas em diversos âmbitos importantes da esfera pública, como as eleições, a crise de confiança no jornalismo faz supor que o senso de legitimidade estaria morto. 

O debate sobre esse tipo de acontecimento não abrange apenas a forma como se faz jornalismo e o papel dessa profissão em meio ao caos da desinformação. Mas também o âmbito legal e de segurança pública, onde surge a necessidade de olharmos essas invasões na privacidade, e a manipulação em rede, por meio da atual CPMI do governo brasileiro.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou uma parceria com o Facebook Brasil e o WhatsApp Inc. para combater a desinformação e abusos durante as Eleições de 2020. O acordo faz parte de uma série de medidas tomadas pelo tribunal para incentivar a circulação de informações oficiais sobre o processo eleitoral e prevenir a desinformação. 

Algumas das medidas tomadas parecem mais paliativas do que realmente úteis para o combate das fake news e afins. Por exemplo, o Facebook disponibilizará a ferramenta “Megafone” para divulgação oficial de informações do TSE. O Instagram promoverá stickers/figurinhas com a temática das eleições municipais. 

E o WhattsApp por fim, fará a criação de um chatbot para ajudar na circulação de dados oficiais do TSE sobre o processo eleitoral e a votação. Assim como será estabelecido um canal de comunicação específico para denunciar contas suspeitas de realizar disparos em massa. 

Entretanto esse canal será desativado em 19 de dezembro com o fim do processo eleitoral deste ano. E apesar dessa nova regulação promover boas práticas, não parecem condizer com a realidade que vivemos hoje. Essas informações falsas vêm de longe e ganham um espaço aterrorizante na mente das pessoas, assim como o filme The Hater pode nos mostrar. 

Nesse longa, acompanhamos algumas semanas ou meses na vida do jovem Tomasz Giemsa (Maciej Musialowski) em Varsóvia. A produção lança luz sobre o mecanismo de funcionamento das redes de ódio e fake news que infestam a internet, tornando quase irrespirável a atmosfera de nossa época. Mais que isso: o filme expõe as articulações desse submundo virtual com a deterioração do debate político e o recrudescimento de tendências como a xenofobia, o racismo, a homofobia e a intolerância religiosa. Tudo em prol do capital. 

Mas não se trata propriamente de um libelo político ou de uma denúncia “exterior”, e sim de uma tentativa de imersão no mundo emocional e psíquico de alguém que está no meio dessa engrenagem, alimentando-a e ao mesmo tempo sendo alimentado por ela. Por isso a narrativa não se descola jamais do ponto de vista de Tomasz, ou Tomek, como é chamado, buscando apreender suas motivações.

No filme também, podemos ver o destrinchar da história de um dos candidatos à presidência da Varsóvia, Paweł Rudnicki, que defende as minorias, os imigrantes e algumas causas de pequenos grupos sociais excluídos da sociedade. Grupos estes que Dyer chama de pessoas esteriotipificadas, aqueles que são delineadas a partir de tópicos da sociedade tradicional. 

E por isso, esse candidato se torna alvo de ataque da publicidade e do a personagem principal. E nesse caso, podemos estabelecer uma relação com o jornalismo, onde o papel ético dessa profissão seria provar a verdade, tentando dar voz a esses públicos minoritários, e mostrar que quando se fala de questões institucionais como no caso do candidato, o que importa é a democracia.

As coisas acontecem no filme, assim como na vida real para manchar a imagem dele. O jornalismo é a fonte de informação por si só, sendo essa fonte de informação, também a fonte da democracia, quando o jornalismo traz a informação, também age para quebrar esse estereótipo. Garantindo que esses grupos deixem de estar a margem. 

“Foi em 2003. Manchetes mentirosas – orientadas, toleradas ou induzidas pelo Pentágono – davam conta de que o ditador do Iraque, Saddam Hussein, fabricava armas químicas de destruição em massa. Jornais de boa reputação e de altas tiragens deram destaque para essa história, o que ajudou a convencer a opinião pública de que era acertada a decisão de enviar tropas lideradas pelos Estados Unidos, com o apoio entusiástico de Tony Blair, primeiro ministro inglês, para invadirem o Iraque. Anos mais tarde, George W. Bush e Tony Blair admitiram que a acusação era uma fraude, mas o dano já estava feito. Uma pesquisa divulgada no final de 2016 mostrou que 53% dos americanos ainda acreditavam que a acusação de que o Iraque produzia armas químicas de destruição em massa fosse autêntica.”

Esse caso mostra como a mente pode se agarrar os fatos e mesmo com provas do contrário ainda assim ser capaz de espalhar as chamadas Fake News. Nos dois cenários que temos para citar de exemplo: A desinformação durante o governo Bush e o cenário da CPI das Fake News, ambos levam em suas raízes as mentiras e a repercussão dessas, assim como a manipulação de valores e opiniões. Entretanto enquanto uma acontece em âmbito de emissoras televisivas e repercute como um erro no jornalismo, a outra acontece no digital, nas redes sociais. 

A era digital ampliou a comunicação, é evidente. Mais que isso: nos países onde há tiranias as redes interconectadas minam os controles oficiais e até propiciam levantes democráticos, atropelando as velhas formas de censura. Ao mesmo tempo, a oligopolização da chamada indústria do entretenimento nunca foi tão intensa. A tendência económica das fusões, que há pelo menos duas décadas atinge todos os setores da economia mundial, do ramo de salsichas ao da especulação financeira, também gera efeitos no mercado da mídia. Aí, porém, sua fisionomia adquire esse hibridismo entre a concentração da propriedade e a multiplicidade de vozes. 

A internet vem conjugando a diversidade de vozes, no plano do debate público, com o recrudescimento dos oligopólios, no plano econômico. Monopólios e pluralismo. Será essa uma combinação factível?