“A maioria de nós não precisa pensar duas vezes sobre essa pergunta. NÓS SABEMOS! Toda a nossa vida e nossos pensamentos estavam centrados em drogas, de uma forma ou de outra — obtendo, usando e encontrando maneiras e meios de conseguir mais. Vivíamos para usar e usávamos para viver. Resumindo, um adicto é um homem ou uma mulher cuja vida é controlada pelas drogas. Estamos nas garras de uma doença contínua e progressiva, que termina sempre da mesma maneira: prisões, instituições e morte.”

Texto Básico de Narcóticos Anônimos

O Narcóticos Anônimos derivou do movimento de Alcoólicos Anônimos no final dos anos 40, com suas primeiras reuniões na área da cidade de Los Angeles, Califórnia, EUA, no início dos anos 50. Por muitos anos, a associação cresceu vagarosamente, espalhando-se de Los Angeles para outras grandes cidades norte-americanas e para a Austrália no final dos anos 70. Em 1983 Narcóticos Anônimos publicou seu livro intitulado Texto Básico e as taxas de crescimento, desde então, subiram vertiginosamente.

Os grupos se formaram rapidamente no Brasil, Colômbia, Alemanha, Índia, República da Irlanda, Japão, Nova Zelândia e Reino Unido. Nos três anos seguintes à publicação do livro Texto Básico de NA, o número de grupos de Narcóticos Anônimos quase triplicou.

O primeiro folheto de NA, o ‘Livro Branco’, define NA como uma “irmandade” de homens e mulheres, sem fins lucrativos, para quem as drogas se tornaram um problema maior.

Adictos em recuperação que se reúnem para ajudar uns aos outros a se manterem limpos.” A afiliação à Narcóticos Anônimos é aberta a qualquer adicto a drogas, independente do tipo ou combinação de drogas usadas. Não existem restrições sociais, religiosas, econômicas, raciais, étnicas, de nacionalidade, gênero ou status social. A afiliação à Narcóticos Anônimos é inteiramente voluntária e a base do programa de recuperação de Narcóticos Anônimos é uma série de atividades pessoais conhecida como Doze Passos, adaptados de Alcoólicos Anônimos. Esses “passos” incluem a admissão de que existe um problema, a busca de ajuda, auto avaliação, partilha em nível confidencial, reparar danos causados e trabalhar com outros adictos a drogas que queiram se recuperar. O programa dá ênfase no que é chamado “despertar espiritual”, ressaltando o seu valor prático e não sua importância filosófica ou metafísica, o que facilitou a tradução do programa, mesmo considerando-se barreiras culturais. NA em si, não é um programa religioso e encoraja cada membro a cultivar um entendimento pessoal, religioso ou não, desse “despertar espiritual.”

Narcóticos Anônimos acredita que uma das chaves do seu sucesso seja o valor terapêutico de adictos trabalhando com outros adictos, por isso, seu principal serviço são as reuniões em grupo. As reuniões podem ser “abertas”, o que significa que qualquer um pode participar, ou ‘fechadas”, quando somente pessoas que estão lá para tratar de seu próprio problema com drogas podem participar. As reuniões são conduzidas por membros de NA e outros membros participam partilhando suas próprias experiências na recuperação da adicção às drogas.

Apesar de não serem termos de uso muito comuns, NA utiliza os termos “adicto” e “adicção” principalmente porque são termos que melhor expressam sua visão de que a adicção a drogas é uma doença que afeta o indivíduo em todas as áreas de sua vida e para evitar qualquer confusão inicial, quanto à compreensão da natureza e do propósito de NA, por parte de adictos que buscam ajuda para seu problema com drogas.

Narcóticos Anônimos encoraja seus membros a se manterem abstinentes de qualquer droga, inclusive o álcool. A experiência de membros de NA tem mostrado que a completa e contínua abstinência é a melhor base para a recuperação e o crescimento pessoal.

Apesar dos conceitos pré-definidos, o processo de recuperação envolve muitas questões relacionadas a individualidade de cada pessoa, ou seja, cada membro tem a sua história, na qual encontrou seu próprio meio de interpretar e inserir o programa em sua vida.

Narcóticos Anônimos e o teatro:

É comum que adictos em recuperação busquem meios para manter a mente e o corpo ocupados. São diversos segmentos que podem auxiliar nesse processo tão complexo, contrariando a ideia de que a religão é o único “refúgio”.

A arte, por exemplo, é muito atrativa para os que encontram no meio uma maneira de expressar os sentimentos e estar sempre em contato com novos aprendizados. É indiscutível que ela tem um enorme poder transformador e pode ser muito impactante na vida do ser humano. Justamente por isso, há grupos dentro do Narcóticos Anônimos(N.A.) que se organizam para realizar produções artísticas, entre elas o teatro.

Para compreender o que é o teatro do N.A, conversamos com Daniel, adicto em recuperação, filho de uma artista cênica e um diretor de teatro e um dos protagonistas do livro “Três Atos: A vida ao encontro da arte”.

Conta um pouco sobre a sua história:

Me foi recomendado ir para a narcóticos, cheguei com 28 anos, e logo que eu cheguei me identifiquei, aí que descobri e assumi que era adicto, não era falta de caráter nem nada disso, eu só tinha uma doença.

Como você vê a diferença entre outros meios de recuperação e o narcótico anônimos?

Até tentei ter acesso com outros meios, mas não consegui ter compromisso com eles, nem remédio nem nada. Religião não tenho nenhuma identificação, e no NA me senti em casa.

Será que as pessoas daqui também se sentiram igual você?

Com certeza, muitas pessoas procuram outros tipos de tratamento antes de se encontrarem no NA, ninguém chegou sem tentar de outra forma, alguns já tentaram de tudo antes de chegarem.

Como o teatro apareceu na sua vida?

Tenho um histórico profissional com o teatro, comecei a trabalhar desde os 18 com isso, sempre estive próximo ao teatro porque minha mãe é formada em artes cênicas e meu pai diretor de teatro, então com 20 e poucos anos já estava atuando profissionalmente.

Ele ajudou na sua recuperação de alguma maneira?

Acredito que sim, porque a gente sofre muito com autoestima, achar que não é útil para nada, é marginalizado. Quando vieram com a ideia eu achei incrível, porque não sabia que poderia estar atuando ou escrevendo nessas condições, e aí a gente foi divulgou, todos se dedicaram. Teve um resultado muito bom, conseguimos fazer a primeira peça de teatro, e levamos a mensagem da possibilidade das pessoas se recuperarem.

Como a arte em geral pode impactar na vida de um adicto?

De várias formas, posso dizer mais sobre o teatro, mas existem vários filmes que falam sobre o tema, e qualquer pessoa que tem consciência sobre esse universo vai sacar a ideia.

Como funciona o teatro?

Fizemos o estudo de treze passos e a gente se propõe a fazer uma peça. Duas pessoas são pontas firmes que fazem comigo todos os anos, tem vez que a gente consegue se dedicar mais, mas na maior parte do tempo a gente faz tudo nos últimos meses.

O NA tem outros eventos também né?

Sim às vezes consigo participar, eles têm várias convenções mundiais sobre os adictos. Tem várias culturas, vários shows e atividades, como é a lei no lugar para pessoas em recuperação. Às vezes a cultura

Vivendo Narcóticos Anônimos dentro e fora de sala:

. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis.

. Fizemos uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a fazer reparações a todas elas.

. Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, exceto quando fazê-lo pudesse prejudicá-las ou a outras.

10º. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

Programa de 12 passos de Narcóticos Anônimos

Os exemplos acima extraídos do programa de 12 passos demonstram que o processo de recuperação da doença não se limita a parar de usar drogas, trata-se de desconstrução do ego e de ideias que acompanharam o indivíduo durante o período de ativa.

Para um adicto, a prática dos 12 passos deve estar presente em todos os segmentos que envolvem o cotidiano, podendo ser considerada uma filosofia de vida. É importante, portanto, compreender que tais ensinamentos não devem se limitar a fronteira de uma sala de N.A.

Um dos “mantras” do grupo é o “Só por hoje”, que é uma maneira de tratar a doença da dependência química como uma luta diária que nunca pode se considerar vencida. Justamente por isso é comum que pessoas que já não usam drogas há muito tempo se mantenham frequentando fielmente o grupo.

Para tratar do assunto, conversamos com Charbel. O comerciante de São José dos Campos tem uma história de vida baseada em dificuldades, erros e superações, assim como muitos que sofrem da doença.

Entrevista Charbel

História

Contato com N.A.
Questão da dependência química em geral
Troféus